segunda-feira, 31 de agosto de 2009



"...Você vai me destruir
Como uma faca cortando as etapas
Furando ao redor
Me indignando, me enchendo de tédio
Roubando o meu ar
Me deixa só e depois não consegue
Não me satisfaz
Pensando em te matar de amor ou de dor eu te espero calada."

Vanessa da Mata; na melhor das hipóteses.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Alcoólicas, trecho III e IX

de
Hilda Hilst

III

Alturas, tiras, subo-as, recorto-as
E pairamos as duas, eu e a Vida
No carmim da borrasca. Embriagadas
Mergulhamos nítidas num borraçal que coaxa.
Que estilosa galhofa. Que desempenados
Serafins. Nós duas nos vapores
Lobotômicas líricas, e a gaivagem
se transforma em galarim, e é translúcida
A lama e é extremoso o Nada.
Descasco o dementado cotidiano
E seu rito pastoso de parábolas.
Pacientes, canonisas, muito bem-educadas
Aguardamos o tépido poente, o copo, a casa.

Ah, o todo se dignifica quando a vida é líquida

IX

Se um dia te afastares de mim, Vida — o que não creio
Porque algumas intensidades têm a parecença da bebida —
Bebe por mim paixão e turbulência, caminha
Onde houver uvas e papoulas negras (inventa-as)
Recorda-me, Vida: passeia meu casaco, deita-te
Com aquele que sem mim há de sentir um prolongado
vazio.
Empresta-lhe meu coturno e meu casaco rosso:
compreenderá
O porquê de buscar conhecimento na embriaguês da via
manifesta.
Pervaga. Deita-te comigo. Apreende a experiência lésbica:
O êxtase de te deitares contigo. Beba.
Estilhaça a tua própria medida.

Ouuun Cah meu Broto!
Tank,s!

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

tá doendo.

"...Depois do novo dia, tudo vai ser diferente
Só que o novo dia ainda não raiou
Enquanto espero a alva, fico na companhia do passado
Mas sem a companhia dos meus antepassados
Melancolia não é obra do acaso
O bam, bam, bam dá risada, enquanto o pobre amarga seu
fracasso
tudo misturado às lembranças do passado
desenhos que antes faziam sorrir, hoje fazem refletir no provir
Óh, que doce esperança no porvir
Eu gozarei do seu rico favor, meu Senhor
Mas por enquanto um cheiro, um gosto
Aciona o gatilho do gosto ou do desgosto
Meu Deus, quantos rostos que eu não vou voltar a ver
Minha avó, que saudade de você
Meu avô, um dia a gente se vê
Então vou poder ouvir as histórias de um homem que foi grande
Pena não ter nascido antes...

...Eu olho pra frente e sinto saudades
Do tempo bom da minha mocidade
No peito arde uma dor que me invade
Contagia tudo e sobe até a mente
Se não me cuido até fico doente
Neurose deprimente
Ontem, hoje e antigamente
Conforta saber que não vai para sempre
Depois do novo dia, vai ser diferente..."


(APC 16- Pregador Luo.)

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

"...Eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio..." Caio F.

Ela se foi.

"...Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez..."

Ontem foi o aniversário dela.
Hoje ela se foi.

Vou te amar pra sempre vóvó.
E quero que saiba que sempre a-d-o-r-e-i suas tapiocas ás 6 hs da manhã.
E que eu adorava quando você me balançava na rede.

Vou te amar pra sempre Vóvó!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

.

Tô com um sentimento um tanto crítico de minhas atitudes hoje.
Parece que estou fazendo tudo errado.
E as coisas estão cada dia mais desorganizadas na minha vidinha tosca.
Tenho conhecido gente interessante.
E soltado os meus melhores e mais sinceros sorrisos pra elas.
Elas aparentemente merecem.
Tô sentindo uma saudade dentro de mim...
Assim... sem motivo.
Ás vezes até tem motivo.
Eu é que tô escondendo de mim mesma.
Escondo de mim mesma muita coisa.
Que não deveria...


Quero uma bebida nessa tarde cinza.

ps: aniversário da minha vó! tão bonita ela...

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

"Uma das minhas preocupações constantes é o compreender como é que outra gente existe, como é que há almas que não sejam a minha, consciências estranhas à minha consciência que, por ser consciência, me parece ser a unica. Compreendo bem que o homem que está diante de mim, e me fala com palavras iguais às minhas, e me faz gestos que são como eu faço ou poderia fazer, seja de algum modo meu semelhante. O mesmo, porém, me sucede com as gravuras que sonho das ilustrações, com as personagens que vejo dos romances, com as pessoas dramáticas que no palco passam’ através dos actores que as figuram.
Ninguém, suponho, admite verdadeiramente a existência real de outra pessoa. Pode conceder que essa pessoa seja viva, que sinta e pense como ele; mas haverá sempre um elemento anónimo de diferença, uma desvantagem materializada. Há figuras de tempos idos, imagens espíritos em livros, que são para nós realidades maiores que aquelas indiferenças encarnadas que falam connosco por cima dos balcões, ou nos olham por acaso nos eléctricos, ou nos roçam, transeuntes, no acaso morto das ruas. Os outros não são para nós mais que paisagem, e, quase sempre, paisagem invisível de rua conhecida.
Tenho por mais minhas, com maior parentesco e intimidade, certas figuras que estão escritas em livros, certas imagens que conheci de estampas, do que muitas pessoas, a que chamam reais, que são dessa inutilidade metafísica chamada carne e osso. E «carne e OSSO», de facto, as descreve bem: parecem coisas cortadas postas no exterior marmóreo de um talho, mortes sangrando como vidas, pernas e costeletas do Destino.
Não me envergonho de sentir assim porque já vi que todos sentem assim. O que parece haver de desprezo entre homem e homem, de indiferente que permite que se mate gente sem que se sinta que se mata, como entre os assassinos, ou sem que se pense que se está matando, como entre os soldados, é que ninguém presta a devida atenção ao facto, parece que abstruso, de que os outros são almas também.
Em certos dias, em certas horas, trazidas até mim por não sei que brisa, abertas a mim por o abrir de não sei que porta, sinto de repente que o merceeiro da esquina é um ente espiritual, que o marçano, que neste momento se debruça à porta sobre o saco de batatas, é, verdadeiramente, uma alma capaz de sofrer.
Quando ontem me disseram que o empregado da tabacaria se tinha suicidado, tive uma impressão de mentira. Coitado, também existia! Tínhamos esquecido isso, nós todos, nós todos que o conhecíamos do mesmo modo que todos que o não conheceram. Amanhã esquecê-lo-emos melhor. Mas que havia alma, havia, para que se matasse. Paixões? Angústias? Sem dúvida… Mas a mim, como à humanidade inteira, há só a memória de um sorriso parvo por cima de um casaco de mescla, sujo, e desigual nos ombros. É quanto me resta, a mim, de quem tanto sentiu que se matou de sentir, porque, enfim, de outra coisa se não deve matar alguém… Pensei uma vez, ao comprar-lhe cigarros, que encalveceria cedo. Afinal não teve tempo para encalvecer. E uma das memórias que me restam dele. Que outra me haveria de restar se esta, afinal, não é dele mas de um pensamento meu?
Tenho subitamente a visão do cadáver, do caixão em que o meteram, da cova, inteiramente alheia, a que o haviam de ter levado. E vejo, de repente, que o caixeiro da tabacaria era, em certo modo, casaco torto e tudo, a humanidade inteira.
Foi só um momento. Hoje, agora, claramente, como homem que sou, ele morreu. Mais nada.
Sim, os outros não existem… É para mim que este poente estagna, pesadamente alado, as suas cores nevoentas e duras. Para mim, sob o poente, treme, sem que eu veja que corre, o grande rio. Foi feito para mim este largo aberto sobre o rio cuja maré chega. Foi enterrado hoje na vala comum o caixeiro da tabacaria? Não é para ele o poente de hoje. Mas, de o pensar, e sem que eu queira, também deixou de ser para mim…"

Fernando Pessoa; Livro do Desassossego.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Na varanda.

Lendo um livro que mais parece um vômito, feridas expelindo secreções, cuspes de sangue.
Um ótimo livro.
Tomando uma dose de Rum atrás da outra.
Fumando o velho e câncerígeno cigarro da saudade.
Um vento gelado no rosto. Só o vento estava gelado.
Eu estava quente.
Em mais uma noite na varanda.
Lendo, bebendo, fumando e sofrendo gratuitamente outra vez.
Amando de graça.
Desejando de graça.
Deteriorando meus orgãos de graça.
E não há quem pague ou o que pague essas noites de insônia.
Essa agonia que me consome.
Esses desejos reprimidos que insistem em me derrubar.
É de graça.
Todas essas linhas são de graça.
As minhas feridas, mesmo as cicatrizadas, expelem a mesma secreção nojenta daquele livro.
Um ótimo livro.
Não saram.
Eu não deixo, porque as enxergo.
E o Rum... Ah o Rum.!
Não é de graça.
O cigarro da saudade... Ah o cigarro da saudade.!
Não é de graça.
A única coisa gratuita aqui é a minha raiva.
O sentimentalismo barato que eu insisto em cultivar.
Sim, sentimentalismo barato, porque amor não é.
E não será nunca. Não dessa forma.
Não assim, individual e mesquinho.

Happy Rum!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Reticências...


Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na ação.
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado;
Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!
Vou fazer as malas para o Definitivo,
Organizar Álvaro de Campos ,
E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem — um antes de ontem que é sempre…
Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei.
Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir…
Produtos românticos, nós todos…
se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada.
Assim se faz a literatura…
Santos Deuses, assim até se faz a vida!
Os outros também são românticos,
Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres,
Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar,
Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos,
Os outros também são eu.
Vendedeira da rua cantando o teu pregão como um hino inconsciente,
Rodinha dentada na relojoaria da economia política,
Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios,
A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma, como o silêncio da vida…
Olho dos papéis que estou pensando em arrumar para a janela,
Por onde não vi a vendedeira que ouvi por ela,
E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica metafisica.
Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar,
Fitei de frente todos os destinos pela distração de ouvir apregoando,
E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta,
E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema…
Como um deus, não arrumei nem uma coisa nem outra…
Por: Álvaro de Campos.
ai caralho... isso me faz beber (também).

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Alcoólicas.


de Hilda Hilst

É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d'água, bebida. A Vida é líquida.
(Alcoólicas - I)

* * *

Também são cruas e duras as palavras e as caras
Antes de nos sentarmos à mesa, tu e eu, Vida
Diante do coruscante ouro da bebida. Aos poucos
Vão se fazendo remansos, lentilhas d'água, diamantes
Sobre os insultos do passado e do agora. Aos poucos
Somos duas senhoras, encharcadas de riso, rosadas
De um amora, um que entrevi no teu hálito, amigo
Quando me permitiste o paraíso. O sinistro das horas
Vai se fazendo tempo de conquista. Langor e sofrimento
Vão se fazendo olvido. Depois deitadas, a morte
É um rei que nos visita e nos cobre de mirra.
Sussurras: ah, a vida é líquida.
(Alcoólicas - II)

* * *

E bebendo, Vida, recusamos o sólido
O nodoso, a friez-armadilha
De algum rosto sóbrio, certa voz
Que se amplia, certo olhar que condena
O nosso olhar gasoso: então, bebendo?
E respondemos lassas lérias letícias
O lusco das lagartixas, o lustrino
Das quilhas, barcas, gaivotas, drenos
E afasta-se de nós o sólido de fechado cenho.
Rejubilam-se nossas coronárias. Rejubilo-me
Na noite navegada, e rio, rio, e remendo
Meu casaco rosso tecido de açucena.
Se dedutiva e líquida, a Vida é plena.
(Alcoólicas - IV)

* * *

Te amo, Vida, líquida esteira onde me deito
Romã baba alcaçuz, teu trançado rosado
Salpicado de negro, de doçuras e iras.
Te amo, Líquida, descendo escorrida
Pela víscera, e assim esquecendo
Fomes
País
O riso solto
A dentadura etérea
Bola
Miséria.
Bebendo, Vida, invento casa, comida
E um Mais que se agiganta, um Mais
Conquistando um fulcro potente na garganta
Um látego, uma chama, um canto. Amo-me.
Embriagada. Interdita. Ama-me. Sou menos
Quando não sou líquida.
(Alcoólicas - V)


in Do Desejo - Campinas, SP: Pontes, 1992.


oun. queria tanto achar a terceira parte...

Hilda fodonaaa!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

"Ainda que dentro de mim as águas apodreçam e se encham de lama e ventos ocasionais depositem peixes mortos pelas margens e todos os avisos se façam presentes nas asas das borboletas e nas folhas dos plátanos que devem estar perdendo folhas lá bem ao sul e ainda que você me sacuda e diga que me ama e que precisa de mim: ainda assim não sentirei o cheiro podre das águas e meus pés não se sujarão na lama e meus olhos não verão as carcaças entreabertas em vermes nas margens, ainda assim eu matarei as borboletas e cuspirei nas folhas amareladas dos plátanos e afastarei você com o gesto mais duro que conseguir e direi duramente que seu amor não me toca nem me comove e que sua precisão de mim não passa de fome e que você me devoraria como eu devoraria você. Ah, se ousássemos." Caio.

Brog da Camila. Meu Broto. Minha Amante!

Demais

Todos acham que eu falo demais
E que ando bebendo demais
Que essa vida agitada não serve pra nada
Andar por aí, bar em bar, bar em bar

Dizem até que ando rindo demais
E que conto anedotas demais
Que não largo o cigarro e dirijo meu carro
Correndo, chegando no mesmo lugar

Ninguém sabe é que isso acontece porque
Vou passar minha vida esquecendo você
E a razão porque vivo esses dias banais

E porque ando triste, ando triste demais
E é por isso que eu falo demais
E é por isso que eu bebo demais
E a razão porque vivo essa vida agitada demais

E porque o meu amor por você é imenso
É porque o meu amor por você é tão grande
É porque o meu amor por você é enorme
Demais

Maysa.

Lânguida face...
ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
ahhhhhhhhhhhhhhh
ahhhhhhhhh

merda!
Grrrrrrrrrrrr que raaaaaaaaaaaaiiivaaaaaaaa!

Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!
Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!
Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!
Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!Burra!

Idiota! Burraaaaa!

Que raiva de miiim!
Buurraaaa!

Moço Velho

Eu sou um livro aberto sem histórias
Um sonho incerto sem memórias
Do meu passado que ficou

Eu sou um porto amigo sem navios
Um mar, abrigo a muitos rios
Eu sou apenas o que sou

Eu sou um moço velho
Que já viveu muito
Que já sofreu tudo
E já morreu cedo

Eu sou um velho moço
Que não viveu cedo
Que não sofreu muito
Mas não morreu tudo

Eu sou alguém livre
Não sou escravo e nunca fui senhor
Eu simplesmente sou um homem
Que ainda crê no amor

Eu sou um moço velho
Que já viveu muito
Que já sofreu tudo
E já morreu cedo

Eu sou um velho, um velho moço
Que não viveu cedo
Que não sofreu muito
Mas não morreu tudo

Eu sou alguém livre
Não sou escravo e nunca fui senhor
Eu simplesmente sou um homem
Que ainda crê no amor


Por: Tim Maia.
Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!
Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!
Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!
Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!Idiota!


grrrrrrrrrrrrrrrrrrrr que raivaaaaaaa!

ahhh!!!!

domingo, 9 de agosto de 2009

Quarta- insana


Nunca me imaginei vivenciando aquela situação.

Sim, é pra poucos.

A primeira coisa que eu reparei foi o cavalo (o Jhonny, mas essa é uma outra história).

Tudo tão rústico... agradavelmente rústico.

Eu poderia relatar o que vi por linhas e linhas.

Mas não importa o que eu vi.

Senti tantas sensações desconhecidas...

A primeira delas foi o gosto de refrigerante de cajú, com uísque.

Um salve pro refrigerante de cajú!

Pra não perder o foco da inspiração; vamos ao que interessa:

Quando vi aquela gota de suor cair dele enquanto ele lia Pessoa e Bukowski.

paralizei, entre palavras e sonoridade, posso dizer que ouvi o som daquela gota cair sobre o canto da cadeira, sem que ele parasse de mexer os lábios lendo com tanto fervor que ressucitava qualquer sentimentozinho morto barato.

Ele gesticulava com os olhos e boca toda a paixão daquelas poesias, e o livro do desasossego me fez por um momento sossegar aquela adrenalina que podia explodir a qualquer instante.

E o vinho não me enjoôu.

O vinho era como ele, amargo no inicio, e doce no fim das contas.

O vinho não me enjoôu.

Aquelas paredes que bloqueiam qualquer barulho, aquela guitarra, e um velho violão charmoso me fizeram me sentir tão confortável; as paredes poderiam me sugar de tão acolhedoras a qualquer momento, eu pensava.

Mas não foram as paredes que me sugaram.

Aquela lua era uma afronta pra quem queria manter um minimo de controle sobre si e sobre o alcool ingerido.

E ele (pra minha sorte e felicidade) realmente se descontrolou...

E era mesmo o que faltava.

Ainda não sei definir as aleatoriedades que se passavam na minha mente.

Melhor assim.

Meu olho não é tão pequeno que não se possa entender alguma coisa.

Tudo parecia se entrelaçar em meio aos nossos rostos colados...Fumaça, essência, música...

O êxtase me chapava, mais que o refrigerante de cajú no uísque, ou que o vinho, ou que qualquer cheiro que pairava sobre a sala.

O bom, foi rodar o prato, com uma comida irreconhecível, mas boa. Muito boa.

E depois nuggets. com Catchup e Mostarda. Categórico.

Eu não acredito em muita coisa.

Não sou sentimental, e nem pegajosa.

Na verdade sou tão confusa que me acham seletista.

Mas ele... Cara, ele tem.


"Olha você tem todas as coisas, que um dia eu sonhei pra mim,

a cabeça cheia de problemas...

Não me importo eu gosto mesmo assim.

Tem os olhos cheios de esperança.

De uma cor que mais ninguém possui.

Me traz meu passado e as lembranças,

coisas que eu quis ser e não fui..."


Very, crazy, good sex for me baby!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

E no café da manhã...

    Outros terão
    Um lar, quem saiba, amor, paz, um amigo.
    A inteira, negra e fria solidão
    Está comigo.

    A outros talvez
    Há alguma coisa quente, igual, afim
    No mundo real. Não chega nunca a vez
    Para mim.

    "Que importa?"
    Digo, mas só Deus sabe que o não creio.
    Nem um casual mendigo à minha porta
    Sentar-se veio.

    "Quem tem de ser?"
    Não sofre menos quem o reconhece.
    Sofre quem finge desprezar sofrer
    Pois não esquece.

    Isto até quando?
    Só tenho por consolação
    Que os olhos se me vão acostumando
    À escuridão.

    Fernando Pessoa, 13-1-1920.

    Eu tenho idéias e razões,
    Conheço a cor dos argumentos
    E nunca chego aos corações.

    Fernando Pessoa, 1932

    Como é por dentro outra pessoa
    Quem é que o saberá sonhar?
    A alma de outrem é outro universo
    Com que não há comunicação possível,
    Com que não há verdadeiro entendimento.

    Nada sabemos da alma
    Senão da nossa;
    As dos outros são olhares,
    São gestos, são palavras,
    Com a suposição de qualquer semelhança
    No fundo.

    Fernando Pessoa, 1934
Muito bom...
"Yohoho e uma garrafa de Rum a nossa loucura!"
hehe =]**

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Se não tivesse ido...

Veja bem, meu bem:
Se você não tivesse pedido aquele uísque, e se eu não tivesse acendido aquele cigarro...
Não haveria um bom motivo para criar.
Odeio direcionar a esse ou aquele, ao homem ou a mulher, tudo aquilo que crio.
Só espero que adoce ou que amargue muito... independente do que se crê.
Mas... digo novamente: veja bem, meu bem:
Se não tivessemos brindado pelo motivo mais idiota, ou por termos ouvido aquela música, sabe-se lá se propositalmente... não estaria no fim da décima-segunda linha.
Se aquele sorriso infantil que você me mostrou não tivesse toda uma essência... Se você não tivesse sentido cheiro de trident de melancia ao invés do meu extinto perfume... e se eu não tivesse reconhecido que o seu continua o mesmo...
Não teria amanhecido o dia lendo o livro que você me emprestou, e para buscar inspiração, não teria lido também Caio, Clarice ou Pessoa logo pela manhã, em mais uma manhã de trabalho intenso, e depois de ontem: tenso.
Livros, música, poesia, arte e 2º dia útil do mês.


Táqueopariu!

Se não tivesse ido... não estaria diferente hoje!

Good sex for me!

Mais um trecho.

"Quando percebi, estava olhando para as pessoas como se soubesse alguma coisa delas que nem elas mesmas sabiam. Ou então como se as transpassasse. Eram bichos brancos e sujos. Quando as transpassava, via o que tinha sido antes delas, e o que tinha sido antes delas era uma coisa sem cor nem forma, eu podia deixar meus olhos descansarem lá porque eles não se preocupavam em dar nome ou cor ou jeito a nenhuma coisa, era um branco liso e calmo. Mas esse branco liso e calmo me assustava e, quando tentava voltar atrás, começava a ver nas pessoas o que elas não sabiam de si mesmas, e isso era ainda mais terrível. O que elas não sabiam de si era tão assustador que me sentia como se tivesse violado uma sepultura fechada havia vários séculos. A maldição cairia sobre mim: ninguém me perdoaria jamais se soubesse que eu ousara.Ninguém me perdoaria se soubesse que eu sei o que elas são, o que elas eram."

Caio F.ernando Abreu.

domingo, 2 de agosto de 2009

Chão de giz.

Eu desço dessa solidão
Espalho coisas sobre um chão de giz
Ah, meros devaneios tolos a me torturar
Fotografias recortadas em jornais de folhas,amiúde...
Eu vou te jogar num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar num pano de guardar confetes
Disparo balas de canhão
É inútil pois existe um grão-vizir
Há tantas violetas velhas sem um colibri
Queria usar, quem sabe, uma camisa de força ou devênus
Mas não vou gozar de nós apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar, gastando assim o meu batom
Agora pego um caminhão, na lona vou a nocaute outra vez
Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar
Meus vinte anos de boy, that's over baby!
Freud explica
Não vou me sujar fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom
Quanto ao pano dos confetes, já passou meu carnaval
E isso explica por que o sexo é assunto popular.
No mais
Estou indo embora
No mais
Estou indo embora
No mais...

Existem vários conceitos, várias teorias pra lombra desse som...
Só posso expressar da seguinte forma: a-d-o-r-o!
Bebo, bebo, bebo e por fim: penso.
Mandei um pedacinho e recebi o complemento...
O que significa?
Oun não!!
Nada de "uhhhh, é um bom sinal..."
Prefiro: "Sim, ele realmente sabe o que é bom..."