sábado, 27 de agosto de 2011

Presença

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento


das horas ponha um frêmito em teus cabelos...


...É preciso que a tua ausência trescale


sutilmente, no ar, a trevo machucado,


as folhas de alecrim desde há muito guardadas


não se sabe por quem nalgum móvel antigo...


Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela


e respirar-te, azul e luminosa, no ar.


É preciso a saudade para eu sentir


como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...


Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista


que nunca te pareces com o teu retrato...


E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.






Mário Quintana.



E é só o que resta sempre aqui: saudade.